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quarta-feira, dezembro 02, 2009

Unilateralidade


"Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios."

Tem dias que a gente acorda com a sensação de coisa inacabada. São especialmente complicados estes dias e estes sentimentos, por terem uma razão no que já foi. Ando fixada na ideia de não reviver, e sim, viver. Tudo novo, nada velho e desajustado. Acontece que esta vontade nem sempre é bem quista por dentro, tem horas que mergulhar no passado e naquilo que não me serve mais, acaba me causando um certo consolo.

Hoje acordei pensando num destes trechos de passado latente. Reavivando coisas amassadas, rasgadas, descartadas, passando revista em atitudes já tomadas, em situações já vividas, em caminhos que já foram trilhados.

Se passou já não importa. Se acabou já devia ter esquecido. Se foi um caminho tortuoso, já o percorri. Sei sim, sei de todo este amontoado de explicações que dou para mim mesma, embora saiba também que não posso evitar estas idas e vindas.

Se o acabado resolveu ocupar o meu dia, pronto! Que ocupe! Que aproveite este intervalo de tempo para usufruir dos espaços privilegiados da minha mente inquieta, pois não tem mesmo mais lugar por aqui. E sabe que é provisório e previsível. Desnecessário e dispensável.

sábado, novembro 28, 2009

Luminiere


"O néctar, ou amṛita, do sânscrito 'imortal', para o Hinduismo, Taoismo, Budismo e várias escolas de mistérios acha-se associado à ambrosia sagrada, símbolo da sabedoria, iluminação espiritual e também da cura e renovação da vida. Na iconografia, o néctar é o líquido precioso da compaixão que verte do vaso dos bodhisattvas, ou seres já iluminados, como Kuan Yin, que assumiram o compromisso de ajudar os que ainda sofrem na Terra".

Também vertemos néctar. Nós humanos que por vezes tranbordamos féu. A cor doce dos nossos dias, as paixões, os sonhos, as vontades saciadas, os ímpetos, os delírios comedidos, meu néctar, minha pequena, mas suficiente, dose de néctar. Doce, renovada, transformada numa manhã de primavera.

terça-feira, outubro 13, 2009

Carnal


"Não quero sugar todo seu leite, nem quero você enfeite do meu ser. Apenas te peço que respeite o meu louco querer. Não importa com quem você se deite, que você se deleite seja com quem for. Apenas te peço que aceite o meu estranho amor.
Teu corpo combina com meu jeito. Nós dois fomos feitos muito pra nos dois. Não valem dramáticos efeitos, mas o que está depois. Não vamos fuçar nossos defeitos, cravar sobre o peito as unhas do rancor, lutemos mas só pelo direito ao nosso estranho amor".

Ando querendo demais, esta volúpia me invade, os beijos sozinhos não me satisfazem. Desejo pele na pele, poros nos poros, saliva, línguas, dedos, marcas, vontades ocultas. Ao meu bel-prazer. Não abro mão de amar, mas preciso delirar. É uma necessidade de um corpo cálido, que repele frieza, desdém, palidez, falta de gosto, ausência de cheiros, inércia, atitudes púdicas.
Se for pra se entregar que seja assim, carregada de desejo, com o corpo trêmulo. Jogar-se por inteiro, esgotar tudo, deixar escoar as sensações sem se prender, sem pudorizar o despudor.

Subterfúgios do querer


Ao nascer começamos a morrer. Quando abro os olhos pela primeira vez, começo também a fechá-los pelo última. Desejo crer que sou pra sempre, mas pra sempre nada é. Na minha vida há duas contagens de tempo: uma progressiva, outra regressiva. Ultimamente tenho preferido andar pela linha regressiva, onde abrir os olhos em cada manhã já é uma vitória.
Tento me equilibrar nesta linha sutil de tempo, ao mesmo tempo em que me impeço de pular para o outro lado do "progresso". Na minha cabeça, a vida anda de costas pra morte, sabendo que é para ela que caminho. Esta sensaçao me alegra, não por saber que a morte está logo ali, e sim por entender que a vida está aqui e agora debaixo dos meus pés, pronta para ser caminhada, e que o tempo é curto, é raro. Isso me encharca de prazer.
Me faz querer agora e não amanhã, me faz amar agora e não amanhã. Me liberto do que quis ontem, é tempo que já foi. Me desprendo do depois por ter certeza que pode não acontecer.
Sorrio no hoje, choro no hoje, beijo no hoje, esqueço no hoje, conquisto no hoje, repugno no hoje, sonho no hoje, realizo também. Não durmo desejando, apenas durmo. Fecho os olhos revestidos de um querer eloquente em poder abri-los novamente, mas sempre com a sensação de ter feito tudo o que quis. Deitar assim me alivia, me faz descansar, mesmo com a possibilidade de não acordar. Portanto, ouvrez vos yeux.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Transite


"Uma caneta e um sentimento são motivos suficientes para eu escrever". Do que você precisa para se sentir completo? O que realmente te faz expor teus sentimentos? Ter e não querer, querer e não ter, ser e não sentir, sentir e não ser. Qualquer ser humano com um mínimo de consciência já esteve localizado na ponte que divide o que somos do que queremos ser, e o que temos do que queremos ter.
Não vejo subjetivismo exagerado nisso. Todos precisamos transitar estes dois lados, para se encontrar de fato no centro, quem não percorre a linha entre o que é e o que quer ser, não evolui, acaba se entregando ao contentamento descontente de carregar um fardo muito leve, o da estagnação. Leve porque não requer fazer força de espécie alguma para isso, o único requesito para levar este fardo é estar-se cheio de uma quietude sufocante. Vivendo de uma relação consigo mesmo baseada no silêncio absoluto. Vestindo máscaras que não escondem nada, e que revelam menos ainda.
Quero estar sempre na ponte, testando meus limites, instigando minhas virtudes. Tenho um corpo que rende mais que o desejado, uma mente ativa e uma alma livre. E é só disso que preciso.

terça-feira, setembro 29, 2009

Se deixe


Ando querendo encontrar um caminho mais curto. Todas estas voltas que dou em torno das minhas vontades, seguem causando-me náuseas. Tem dias em que chego ao fim exaurida até a última gota da minha dose de ânimo. Tem dias em que chego ao fim com a sensação de ter andado para trás, no sentido anti-horário.
Sinto muitas vontades e elas, quase, não cabem dentro de mim, esta ânsia por vê-las não realizadas, faz com que algumas delas transbordem, e acabo às perdendo. E fico andando por aí como uma peça inacabada, como uma semi-nudez, como uma sinfonia sem notas, como um vaso sem flores, como uma cama sem amantes, como uma boca sem dentes, como um grito sem voz.
Não quero a sorte de chegar ao topo sem arranhões, mas quero uma alma livre que consegue percorrer caminhos sem o peso das minhas tolas tentativas de prendê-la.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Rêve de compagnie


"Eu sei que não sou nada e que talvez nunca tenha tudo. Aparte isso, eu tenho em mim todos os sonhos do mundo". (Fernando Pessoa)

O que te faz feliz? ontem tive que responder esta pergunta por mais de uma vez para uma amiga, quando falávamos sobre aquilo que buscamos. Após pensar sobre que me faria feliz, não pude deixar de pensar sobre meus sonhos. Aos quais esta mesma amiga deu o nome de "sonhos de estimação". Nunca tinha pensado os sonhos por esta ótica, estimá-los, alimentá-los e torná-los uma companhia.

Muitas pessoas cultivam sonhos, almejam, desejam, mas pecam por não torná-los vivos dentro de si, como uma parte do seu corpo, um órgão vital. Se alimentar deles, ver neles as possibilidades todas que queremos pra nós. Alguns abandonam os sonhos por medo, outros por falta de tempo, e outros tantos, simplesmente, por não enxergá-los de fato como possibilidades. É claro que é mais cômodo e "seguro", manter estes desejos guardados numa caixinha, e de quando em quando abrir uma fresta e olhar pra eles, respirar o ar que eles respiram, sentir seu cheiro e gosto, e depois separá-los da ordem do dia.

Para quem faz isso, e muitos de nós fazemos, a realização se torna uma utopia. Algo inalcançável que está fadado a morrer aos poucos, definhando nas nossas impossibilidades.

Mas quem pega o sonho no colo, alimenta-o, fica atento para seu crescimento, dá tudo de si por ele, como se fosse um pedaço seu, para estes o sonho de hoje é a realidade de amanhã. Acreditar nesta possibilidade é o maior esforço que podemos fazer para a concretização. Todas as outras atitudes,separadas do querer, se tornam fracas, impossibilitadas e só conseguem uma coisa - continuar afastando o sonho de si, tornando-o cada dia mais inatingível.

"O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio".(José Saramago)

quarta-feira, setembro 16, 2009

Alegre desespero


Os jargões populares “só dá valor quando perde” e “não dá valor ao que tem” traduzem de certa forma o erro: desejar somente o que não possuímos, deixando de lado toda uma vida possível e palpável, a qual poderia ter sido desfrutada e não foi.

Muitas vezes desejamos o que está além, e quando enfim alcançamos o objeto deste querer, o descartamos em seguida para passar a desejar denovo. É como se o desejo, a ambição, o ato de almejar fosse uma válvula de escape para nossa insatisfação pessoal. Queremos o que não temos até tê-los. Eu quero sempre mais que hoje, eu quero sempre mais que ontem. E mais do que vou ter amanhã. Talvez esta busca nos mantenha vivos. Talvez.

“Desejar mais o que já se tem e menos o que ainda não tem”. Esta afirmação me entedia, me tira o prazer, mas então se luto contra ela, porque nunca me sinto verdadeiramente satisfeita? Megalomaníacos de plantão, Uni-vos em nome dos nossos desejos infindáveis.

terça-feira, setembro 08, 2009

Indigestão


Tenho sentido verdadeira repulsa de pessoas que usam a boca como meio de passagem de tudo o que lhes vêm a mente. Muitas vezes sem pensar, saem falando coisas, e mais coisas. Não sabem nem direito o que são, e usam suas teorias que deveriam ser aplicadas em si, para julgar os outros.

Detesto julgamentos, preconceitos. Será que todo mundo se achando no direito de abrir a boca, e vomitar suas frustrações nos outros? Se não consigo ser algo, então a culpa é de outro, se estou numa determinada situação que plantei pra mim, então é a erva daninha dos outros que me faz colher o que estou colhendo?

Usar a boca apenas pra cuspir rancores, não leva a nada, só a mais frustrações. Cada um sabe de si, e oque quer pra si, e se não sabe deveria buscar saber. Urgente! Caso contrário vai continuar igual, do mesmo jeito no meio do nada, perdido num mar de lixo que insiste em jogar pela boca pra fora, tentando atingir o mundo.

segunda-feira, setembro 07, 2009

Livre


"Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido" (Lispector, C.)

Adoro a paz que me dá, não dar sentido as coisas. Não precisa fazer sentido, não quero rótulos, receitas, fórmulas. Vou simplismente fazer, e experimentar, sem medo do resultado, sem perder tempo tentando sentir o sentido do que estou fazendo.

Simples, só não quero mais sentido, se você não quer, não quero saber porque, se quer que bom, mas não me dê explicações e nem me cobre-as. Enquanto estiver disposta vou estar aqui, quando não quiser mais, sem grandes motivos, mudarei meu rumo, meu lado.

Sem invasões, sem inquietações. Sem pontos cardeais, vou andar, simplismente. Seguir o que está em algum lugar dentro das minhas vontades. E é só isso que importa.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Indeléveis


Indestrutível, que não se pode apagar, inquebrável, inesquecível, ou então para sempre. Ao querer saber em mim o que é indelével, muitas coisas passam pela minha cabeça. E percebo que a coisa mais indestrutível que há em mim, é o que carrego na alma, minha essência verdadeira.
O corpo é destrutível, o passado pode cair no esquecimento, os amores, até então nenhum ficou gravado na pedra. Os sentimentos mais mundanos podem ser quebrados.
Então o que é indelével em mim, é também impalpável. Trata-se de uma força, de uma sensação, de um sentido bem maior que todo o resto.
Embora tente criar momentos indeléveis, todos o são até que eu decida o contrário para eles. Mas o que habita o interno, o que está por debaixo do visível, do palpável, do imaginável continua lá intacto, e apesar de estar em mim, não tenho qualquer acesso, qualquer possibilidade de alterar este fluxo. Os anos passam, a própria vida finda, e o que é indelével continua ali, indiferente a tudo, e ao mesmo tempo tão intrinsicamente envolvido.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Sozinho só não é possível


"Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….” Friedrich Nietzsche.
Uso essa verdade pra mim, as pessoas têm a tendênccia a acreditar que estar junto é estar acompanhado, e estar só é ser solitário. Por vezes estou rodeada de gente e me sentindo só, verdadeiramente solitária, cheia de pessoas em volta, mas vazia de companhia. Por outras estou sozinha, de fato, e sinto-me muito bem acompanhada.
Sempre reforço que não valorizo quantidade. Não sou dada a acreditar que pessoas que têm o mundo aos seus pés se consideram privilegiadas por nunca se sentirem sós.
Por isso, antes de me deixar acompanhar costumo tentar perceber o quão acompanhada estarei, e se sozinha, não serei mais tomada pela multidão que mora em mim, nos meus pensamentos ou no meu silêncio absoluto.
Se parte de nós pensasse assim, as aproximações seriam mais verdadeiras, e os afastamentos mais oportunos.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Anticorpos


Entre idas e vindas, você não pode se furtar de uma coisa. Ouvir. Talvez este seja o caminho mais curto para o conhecimento. Os homens, principalmente, quando aguçados falam tudo o que tem vontade e o que ainda desejam viver entre quatro paredes, ou não.
Como mulher posso dizer que estamos mais vivas, mais competitivas, mais sexuais. Nesta arte de escutar já ouvi coisas do tipo, "quero alguém que entre na minha casa sem falar nada, deite na minha cama, faça um sexo selvagem e vá embora antes de amanhecer", ou ainda, "Sou casado, bem casado, mas minha parceira não gosta de sexo oral, por isso e só por isso traio sempre". E também, "já fui fiel, mas agora quero experimentar de tudo sem compromisso, não quero mais ter que dizer onde e com quem vou", "estou com esta pessoa, mas não gosto dela de verdade, porém não consigo sair deste relacionamento".
Diante de tudo isso chego a uma conclusão, os homens, ou a maioria destes citados a cima, têm por maior fetiche o desejo por não ser nada, nem ninguém, habitando lugar algum. Gozam ao debruçar sobre suas atuais ou ex parceiras toda a culpa por serem tão infiéis, ou tão descrentes, ou tão sexualmente insatisfeitos. O que conseguem com isso? algumas ereções que fracassam na terceira noite, e sua penalidade? Não conseguir fingir orgasmo.

lips


Hoje quero sentir o gosto que tem na ponta dos meus dedos, ou quem sabe, o gosto de uma lágrima, do meu perfume preferido, do abraço da minha mãe, da pessoa que vou amar. Também quero sentir o gosto das nuvens, da maresia, do vento, sim o sabor do vento. Me agrada a ideia de sentir o gosto da minha infância, e também da minha velhice. Queria poder saber qual é o gosto dos beijos das bocas que ainda não beijei, das peles que ainda não toquei.
Que gosto tem o amor, ou o odio. Não quero nunca sentir o gosto da indiferença, e nem da hipocresia, provavelmente são insossas. Do sol, da lua, das estrelas, também quero sentir o gosto.
O gosto da incerteza, dos meus sonhos. Todos me agradam. O gosto das amizades mais íntimas, mais sinceras. Que gosto será tem um banho? e o arrepio?
Enquanto não sinto estes gostos todos, vou criando sabores ao meu próprio gosto.

domingo, agosto 30, 2009

desencaixe


Eu não sirvo nestes espaços que me dão. Ou sobro, ou falto. Esta necessidade de pertencer me cansa. Não quero pertencer, estar. Quero ser, servir. Vivemos buscando lugares que nos fazem sentir parte do jogo, nestes lugares buscamos pessoas que nos tornam parte dos seus pertences. Não somos objetos.
Ter que estar em algum lugar. O "estar", significa mais do que é, estar é estar para alguma coisa ou para alguém. Este é o objetivo. Não é apenas o simples permancer.
Muitas relações são baseadas nisso, estar com alguém, ou em um relacionamento significa muito mais pertencer ao grupo de pessoas que, supostamente, têm alguém, do que a sensação única de querer estar mesmo neste lugar e com esta pessoa. Acho que isso explica um pouco as traições. Fica óbvio entender que se estando onde não se quer de fato estar, a coisa acaba ficando intediosa demais pra se permancer inerte.
Por isso, não pertenso a nada, não caibo em nada que não me caiba também. Não vou viver de falsos encaixes.

sexta-feira, agosto 28, 2009

Provocateux


Pra quem você fala. Já parou pra pensar sobre isso? Soltamos palavras pela boca. Expressamos-nos com o corpo, até mesmo com o silêncio absoluto. Às vezes sinto que não falo pra ninguém, ou melhor, falo para o nada. Expresso o que habita em mim, mas não sou compreendida, não sinto o outro lado.

É como jogar na parede, que fria e dura, nada absorve. A não ser na base da pancada, como o prego que fura a parede para poder permanecer nela. Não quero ser um prego. Entrando sob o uso da força, quero fluir. Natural. De um modo mais sutil, mais aceitável.

Mas para quem eu falo? Não sei. Por vezes percebo que falo, e não consigo dizer nada. Às vezes silencio, mas acabo gritando. Noutras estou em movimento, embora apareça atada e inerte. Entendo, nem todo mundo quer ouvir, então pra quem eu falo?

quinta-feira, agosto 20, 2009

Escape


Uma sensação de incertezas me tranca o ar. Estou querendo muitas coisas, e ao mesmo tempo todas elas me parecem impalpáveis. Sinto os pés e mãos amarrados diante das circunstâncias que assumi pra mim.
Uma parte de mim quer estar do lado, outra quer estar à frente, e a posição de tras por vezes me parece a mais adequada.
Aquilo que escolho, me leva outra coisa, só que quero transitar entre ambas. Não quero perder pra ganhar. Não agora, não hoje. Talvez amanhã.
Me deixe assim, me deixe fazer, não me prenda. Não agora, não hoje. Talvez amanhã.

terça-feira, agosto 18, 2009

l'évolution


Não dá para permanecer sempre no mesmo lugar. Sair do eixo é necessário. É natural. Faz parte da vida. Transformar hábitos, mudar de opinião, readaptar-se, são processos tão intrínsicos ao ciclo da vida, quanto nascer, crescer, morrer.

Idas e vindas, encontros, desencontros, reencontros. Perder e ganhar, ter e deixar de ter. Fazer e desfazer. Nada é estático, a vida é mudança, é ciclo, é um círculo, onde hora estamos emcima, ora embaixo e ora dos lados. Onde o começo pode ser o fim, e o fim apenas o começo.

O que muda só externamente perde a imensidão e a importância, a roda deve ser girada também, dentro da gente. Resistir a isso é tão eficaz quanto acreditar que a morte é
apenas uma consequência de estar vivo.

domingo, agosto 16, 2009

Não olhe pra trás


O foco muitas vezes está no que se perde, e não no que se tem. Como no mito grego de Orpheu e Eurídice, a falta de confiança no novo, faz você viver aprisionado no passado.

O medo tem o poder de tolir as possibilidades, estancar as fontes. A prisão no passado, no amor que deixou de existir, é a pior via para o inusitado. Sempre teremos uma segunda chance, contanto que saibamos viver como novo aquilo que é novo, olhando para adiante e, sobretudo, confiando.

Virar os olhos para o que se foi é uma maneira cômoda de dizer a si mesmo, "esta era sua única chance". Esta crença é capaz de imobilizar, paralisar o tempo. E nada mais acontece. Portanto, sem mensurar o tamanho da perda, ande pra frente. E, nunca, em hipótese alguma, olhe pra trás.

sábado, agosto 15, 2009

Assim


A boca, os lábios, a língua. O nariz, o cheiro, inspire, espire. As mãos, os dedos e as pontas deles. O frio, o arrepio, o calafrio. A pele, a minha, a sua, a pele na outra pele. As pernas, coxas, o enlace delas. O pé, os sentidos. O gosto, o cheiro, o toque, a imagem, escuto você.

Aperta, abraça, prende, solta, molha. Escorre, desliza. Ascende, transcende. Mergulha, absorve. Acalma, alma. Pega, sente, gosta. Engole, mais um gole. Empurra, puxa.

Esfrega, entrega, pede, troca. ascelera, intensa, extensa, treme. Assim é tudo.

quarta-feira, agosto 12, 2009

desorganizando a bagunça


Algumas coisas exigem bastante de mim. Uma delas é a arrumação das coisas. Botar ordem nos objetos me deixa bastante melancólica e nostálgica. Tudo o que guardo, o faço com aquela sensação de que me pertencem de certa forma, que são necessárias, se não para o uso em si, para me reavivar em lembranças.

Certas filosofias de vida, indicam a eliminação do inutilizável. Mas devo perguntar, o que realmente é utilizável, na concepção destas ideias e formas de se levar a vida.

Se eu gosto tanto de caixinhas vazias, será que elas não me são úteis? Sempre penso que sim na hora de arrumar gavetas e armários.

Não sei porque, mas estas arrumações acabam me bagunçando, embora às vezes sinta um alívio quando me livro de certas coisas, por outras só consigo lamentar. Eu sou assim, e enquanto isso convivo numa boa com esta desordem.

sexta-feira, agosto 07, 2009

Me encharco


Se um dos principais elementos que me envolvem é a água, não sei porque não gostar dos dias chuvosos. Resolvi levantar esta questão em mim, pois foram muitas chuvas que me tiraram o apetite, o desejo e a vontade.

Mas hoje, e principalmente, neste início de tarde molhado, cinza e sombrio, revigoro conceitos sobre dias úmidos, aquosos. Teve vezes que dias assim me fizeram aguar, ter olhos marejados, e uma certa vontade de afundar no abismo das águas que se formam denro de mim.

Só que agora, e nos momentos que antescederam este texto, me deu uma vontade de gostar da chuva escorrendo pela vidraça, da minha janela vejo uma árvore tomada pelo espírito de outono e inverno, seca, cinza, sem folhas, só os galhos balançando levemente ao sabor do vento e da chuva fina. Me comparo com esta árvore, consigo sentir as gotas caindo sobre mim e me dando a sensação de alma lavada, penso que esta árvore, se pensasse, estaria com esta mesma sensação. Parece que ela sorri para a chuva.

Passo então, a querer esta sensação. Quero ser como a árvore, que se alegra para cada gota d`água que se debruça sobre ela. Vou lavar minha alma, a cada dia molhado, e esperar limpa, o sol que já deve estar próximo.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Avesso e direito


Tem uma parte de mim que quer viver de sonhos. Não raras vezes, fico parada pensando em como tudo poderia ser, me entrego para este mundo subjetivo, onde vivo melhor, mais tranquila, mais inteira.

De tempos em tempos sou resgatada pra realidade das coisas, e os gostos, cheiros e cores da vida imaginada se dissolvem como nuvem.

Vivo então mais um pedaço desta vida que tenho por real, e de quando em quando volto e me refugio na outra forma de viver que descobri pra mim.

Acaba sendo bom andar de vida em vida, mesclar as coisas, misturar as nuances. Quando está tudo escuro por aqui, vou para o outro lado e busco as cores que preciso para dar vida a vida. E nunca me perco neste caminho. Sempre encontro as saídas.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Vãos e brechas - o tarot


Hoje senti o vácuo dentro de mim, ao estar diante de uma situação de antever meu futuro, junto a uma pessoa que dizia ler coisas que estão por vir. Sentada a sua frente, via um punhado de papéis, com imagens e símbolos místicos, tentando ser a previsão dos meus próximos segundos, horas e dias.

Não teve uma só palavra que tenha sido dita, que eu já não tinha ouvido de mim mesma. Tudo o que eu já sabia foi repetido. Mesmo assim quis ouvir, das promessas "promissoras", que os astros reservam.

Só que a sensação de saber antes, gerou em mim um vazio, um buraco, por onde minha esperança escapou. Minha vontade pelo inusitado foi se esvaindo aos poucos.

Muito embora eu saiba que nada está de fato ao nosso alcance, e que no máximo podemos fazer nossa parte e auxiliar para que as coisas aconteçam como tem que ser, por horas me furto o direito de pensar assim e vou em busca de algo externo, para preencher o que deve ser recheado por dentro.

E sigo tapando buracos, mas deixando vãos e brechas entreabertas para que a esperança retorne.

domingo, agosto 02, 2009

O sopro


Há no meu instinto um sopro. Um sopro de querer. Um sopro de sonhar. Um sopro de seguir. Aquilo que fazemos fica feito, ninguém pode tirar o título de "coisa feita", já o que não fazemos, está fadado a nunca existir. Por isso exponho meus sentimentos, escancaro para quem quiser compreendê-los ou não.
Não me furto o prazer de sentir e ser. Não há vida onde não há troca, não me relaciono com paredes, quero retorno. Viver é fazer algo pra nós com a intenção dos outros.

Nada precisa ser

"O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre. Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações".

Por momentos me pergunto o quanto é possível ser de verdade. Se não somos nada além de vontades, desejos, sonhos, transformados em material, em objetos de consumo. O que quero hoje, posso não querer mais amanhã. Assim são as coisas. Então pra que se debruçar sobre coisas que poderíamos compartilhar apenas. Nada é nosso, nada é de verdade, nada precisa ser.

Para constar

"Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também".

As palavras que aqui aparecerem amontoadas em um sentido, serão apenas ideias, despretenciosas, que faço sobre as coisas. Não configuro adivinhar vontades e verdades. Apenas as escrevo, as palavras, para que juntas possam ser eu.