
Ao nascer começamos a morrer. Quando abro os olhos pela primeira vez, começo também a fechá-los pelo última. Desejo crer que sou pra sempre, mas pra sempre nada é. Na minha vida há duas contagens de tempo: uma progressiva, outra regressiva. Ultimamente tenho preferido andar pela linha regressiva, onde abrir os olhos em cada manhã já é uma vitória.
Tento me equilibrar nesta linha sutil de tempo, ao mesmo tempo em que me impeço de pular para o outro lado do "progresso". Na minha cabeça, a vida anda de costas pra morte, sabendo que é para ela que caminho. Esta sensaçao me alegra, não por saber que a morte está logo ali, e sim por entender que a vida está aqui e agora debaixo dos meus pés, pronta para ser caminhada, e que o tempo é curto, é raro. Isso me encharca de prazer.
Me faz querer agora e não amanhã, me faz amar agora e não amanhã. Me liberto do que quis ontem, é tempo que já foi. Me desprendo do depois por ter certeza que pode não acontecer.
Sorrio no hoje, choro no hoje, beijo no hoje, esqueço no hoje, conquisto no hoje, repugno no hoje, sonho no hoje, realizo também. Não durmo desejando, apenas durmo. Fecho os olhos revestidos de um querer eloquente em poder abri-los novamente, mas sempre com a sensação de ter feito tudo o que quis. Deitar assim me alivia, me faz descansar, mesmo com a possibilidade de não acordar. Portanto, ouvrez vos yeux.
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