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terça-feira, setembro 29, 2009

Se deixe


Ando querendo encontrar um caminho mais curto. Todas estas voltas que dou em torno das minhas vontades, seguem causando-me náuseas. Tem dias em que chego ao fim exaurida até a última gota da minha dose de ânimo. Tem dias em que chego ao fim com a sensação de ter andado para trás, no sentido anti-horário.
Sinto muitas vontades e elas, quase, não cabem dentro de mim, esta ânsia por vê-las não realizadas, faz com que algumas delas transbordem, e acabo às perdendo. E fico andando por aí como uma peça inacabada, como uma semi-nudez, como uma sinfonia sem notas, como um vaso sem flores, como uma cama sem amantes, como uma boca sem dentes, como um grito sem voz.
Não quero a sorte de chegar ao topo sem arranhões, mas quero uma alma livre que consegue percorrer caminhos sem o peso das minhas tolas tentativas de prendê-la.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Rêve de compagnie


"Eu sei que não sou nada e que talvez nunca tenha tudo. Aparte isso, eu tenho em mim todos os sonhos do mundo". (Fernando Pessoa)

O que te faz feliz? ontem tive que responder esta pergunta por mais de uma vez para uma amiga, quando falávamos sobre aquilo que buscamos. Após pensar sobre que me faria feliz, não pude deixar de pensar sobre meus sonhos. Aos quais esta mesma amiga deu o nome de "sonhos de estimação". Nunca tinha pensado os sonhos por esta ótica, estimá-los, alimentá-los e torná-los uma companhia.

Muitas pessoas cultivam sonhos, almejam, desejam, mas pecam por não torná-los vivos dentro de si, como uma parte do seu corpo, um órgão vital. Se alimentar deles, ver neles as possibilidades todas que queremos pra nós. Alguns abandonam os sonhos por medo, outros por falta de tempo, e outros tantos, simplesmente, por não enxergá-los de fato como possibilidades. É claro que é mais cômodo e "seguro", manter estes desejos guardados numa caixinha, e de quando em quando abrir uma fresta e olhar pra eles, respirar o ar que eles respiram, sentir seu cheiro e gosto, e depois separá-los da ordem do dia.

Para quem faz isso, e muitos de nós fazemos, a realização se torna uma utopia. Algo inalcançável que está fadado a morrer aos poucos, definhando nas nossas impossibilidades.

Mas quem pega o sonho no colo, alimenta-o, fica atento para seu crescimento, dá tudo de si por ele, como se fosse um pedaço seu, para estes o sonho de hoje é a realidade de amanhã. Acreditar nesta possibilidade é o maior esforço que podemos fazer para a concretização. Todas as outras atitudes,separadas do querer, se tornam fracas, impossibilitadas e só conseguem uma coisa - continuar afastando o sonho de si, tornando-o cada dia mais inatingível.

"O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio".(José Saramago)

quarta-feira, setembro 16, 2009

Alegre desespero


Os jargões populares “só dá valor quando perde” e “não dá valor ao que tem” traduzem de certa forma o erro: desejar somente o que não possuímos, deixando de lado toda uma vida possível e palpável, a qual poderia ter sido desfrutada e não foi.

Muitas vezes desejamos o que está além, e quando enfim alcançamos o objeto deste querer, o descartamos em seguida para passar a desejar denovo. É como se o desejo, a ambição, o ato de almejar fosse uma válvula de escape para nossa insatisfação pessoal. Queremos o que não temos até tê-los. Eu quero sempre mais que hoje, eu quero sempre mais que ontem. E mais do que vou ter amanhã. Talvez esta busca nos mantenha vivos. Talvez.

“Desejar mais o que já se tem e menos o que ainda não tem”. Esta afirmação me entedia, me tira o prazer, mas então se luto contra ela, porque nunca me sinto verdadeiramente satisfeita? Megalomaníacos de plantão, Uni-vos em nome dos nossos desejos infindáveis.

terça-feira, setembro 08, 2009

Indigestão


Tenho sentido verdadeira repulsa de pessoas que usam a boca como meio de passagem de tudo o que lhes vêm a mente. Muitas vezes sem pensar, saem falando coisas, e mais coisas. Não sabem nem direito o que são, e usam suas teorias que deveriam ser aplicadas em si, para julgar os outros.

Detesto julgamentos, preconceitos. Será que todo mundo se achando no direito de abrir a boca, e vomitar suas frustrações nos outros? Se não consigo ser algo, então a culpa é de outro, se estou numa determinada situação que plantei pra mim, então é a erva daninha dos outros que me faz colher o que estou colhendo?

Usar a boca apenas pra cuspir rancores, não leva a nada, só a mais frustrações. Cada um sabe de si, e oque quer pra si, e se não sabe deveria buscar saber. Urgente! Caso contrário vai continuar igual, do mesmo jeito no meio do nada, perdido num mar de lixo que insiste em jogar pela boca pra fora, tentando atingir o mundo.

segunda-feira, setembro 07, 2009

Livre


"Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido" (Lispector, C.)

Adoro a paz que me dá, não dar sentido as coisas. Não precisa fazer sentido, não quero rótulos, receitas, fórmulas. Vou simplismente fazer, e experimentar, sem medo do resultado, sem perder tempo tentando sentir o sentido do que estou fazendo.

Simples, só não quero mais sentido, se você não quer, não quero saber porque, se quer que bom, mas não me dê explicações e nem me cobre-as. Enquanto estiver disposta vou estar aqui, quando não quiser mais, sem grandes motivos, mudarei meu rumo, meu lado.

Sem invasões, sem inquietações. Sem pontos cardeais, vou andar, simplismente. Seguir o que está em algum lugar dentro das minhas vontades. E é só isso que importa.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Indeléveis


Indestrutível, que não se pode apagar, inquebrável, inesquecível, ou então para sempre. Ao querer saber em mim o que é indelével, muitas coisas passam pela minha cabeça. E percebo que a coisa mais indestrutível que há em mim, é o que carrego na alma, minha essência verdadeira.
O corpo é destrutível, o passado pode cair no esquecimento, os amores, até então nenhum ficou gravado na pedra. Os sentimentos mais mundanos podem ser quebrados.
Então o que é indelével em mim, é também impalpável. Trata-se de uma força, de uma sensação, de um sentido bem maior que todo o resto.
Embora tente criar momentos indeléveis, todos o são até que eu decida o contrário para eles. Mas o que habita o interno, o que está por debaixo do visível, do palpável, do imaginável continua lá intacto, e apesar de estar em mim, não tenho qualquer acesso, qualquer possibilidade de alterar este fluxo. Os anos passam, a própria vida finda, e o que é indelével continua ali, indiferente a tudo, e ao mesmo tempo tão intrinsicamente envolvido.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Sozinho só não é possível


"Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….” Friedrich Nietzsche.
Uso essa verdade pra mim, as pessoas têm a tendênccia a acreditar que estar junto é estar acompanhado, e estar só é ser solitário. Por vezes estou rodeada de gente e me sentindo só, verdadeiramente solitária, cheia de pessoas em volta, mas vazia de companhia. Por outras estou sozinha, de fato, e sinto-me muito bem acompanhada.
Sempre reforço que não valorizo quantidade. Não sou dada a acreditar que pessoas que têm o mundo aos seus pés se consideram privilegiadas por nunca se sentirem sós.
Por isso, antes de me deixar acompanhar costumo tentar perceber o quão acompanhada estarei, e se sozinha, não serei mais tomada pela multidão que mora em mim, nos meus pensamentos ou no meu silêncio absoluto.
Se parte de nós pensasse assim, as aproximações seriam mais verdadeiras, e os afastamentos mais oportunos.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Anticorpos


Entre idas e vindas, você não pode se furtar de uma coisa. Ouvir. Talvez este seja o caminho mais curto para o conhecimento. Os homens, principalmente, quando aguçados falam tudo o que tem vontade e o que ainda desejam viver entre quatro paredes, ou não.
Como mulher posso dizer que estamos mais vivas, mais competitivas, mais sexuais. Nesta arte de escutar já ouvi coisas do tipo, "quero alguém que entre na minha casa sem falar nada, deite na minha cama, faça um sexo selvagem e vá embora antes de amanhecer", ou ainda, "Sou casado, bem casado, mas minha parceira não gosta de sexo oral, por isso e só por isso traio sempre". E também, "já fui fiel, mas agora quero experimentar de tudo sem compromisso, não quero mais ter que dizer onde e com quem vou", "estou com esta pessoa, mas não gosto dela de verdade, porém não consigo sair deste relacionamento".
Diante de tudo isso chego a uma conclusão, os homens, ou a maioria destes citados a cima, têm por maior fetiche o desejo por não ser nada, nem ninguém, habitando lugar algum. Gozam ao debruçar sobre suas atuais ou ex parceiras toda a culpa por serem tão infiéis, ou tão descrentes, ou tão sexualmente insatisfeitos. O que conseguem com isso? algumas ereções que fracassam na terceira noite, e sua penalidade? Não conseguir fingir orgasmo.

lips


Hoje quero sentir o gosto que tem na ponta dos meus dedos, ou quem sabe, o gosto de uma lágrima, do meu perfume preferido, do abraço da minha mãe, da pessoa que vou amar. Também quero sentir o gosto das nuvens, da maresia, do vento, sim o sabor do vento. Me agrada a ideia de sentir o gosto da minha infância, e também da minha velhice. Queria poder saber qual é o gosto dos beijos das bocas que ainda não beijei, das peles que ainda não toquei.
Que gosto tem o amor, ou o odio. Não quero nunca sentir o gosto da indiferença, e nem da hipocresia, provavelmente são insossas. Do sol, da lua, das estrelas, também quero sentir o gosto.
O gosto da incerteza, dos meus sonhos. Todos me agradam. O gosto das amizades mais íntimas, mais sinceras. Que gosto será tem um banho? e o arrepio?
Enquanto não sinto estes gostos todos, vou criando sabores ao meu próprio gosto.