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domingo, agosto 30, 2009

desencaixe


Eu não sirvo nestes espaços que me dão. Ou sobro, ou falto. Esta necessidade de pertencer me cansa. Não quero pertencer, estar. Quero ser, servir. Vivemos buscando lugares que nos fazem sentir parte do jogo, nestes lugares buscamos pessoas que nos tornam parte dos seus pertences. Não somos objetos.
Ter que estar em algum lugar. O "estar", significa mais do que é, estar é estar para alguma coisa ou para alguém. Este é o objetivo. Não é apenas o simples permancer.
Muitas relações são baseadas nisso, estar com alguém, ou em um relacionamento significa muito mais pertencer ao grupo de pessoas que, supostamente, têm alguém, do que a sensação única de querer estar mesmo neste lugar e com esta pessoa. Acho que isso explica um pouco as traições. Fica óbvio entender que se estando onde não se quer de fato estar, a coisa acaba ficando intediosa demais pra se permancer inerte.
Por isso, não pertenso a nada, não caibo em nada que não me caiba também. Não vou viver de falsos encaixes.

sexta-feira, agosto 28, 2009

Provocateux


Pra quem você fala. Já parou pra pensar sobre isso? Soltamos palavras pela boca. Expressamos-nos com o corpo, até mesmo com o silêncio absoluto. Às vezes sinto que não falo pra ninguém, ou melhor, falo para o nada. Expresso o que habita em mim, mas não sou compreendida, não sinto o outro lado.

É como jogar na parede, que fria e dura, nada absorve. A não ser na base da pancada, como o prego que fura a parede para poder permanecer nela. Não quero ser um prego. Entrando sob o uso da força, quero fluir. Natural. De um modo mais sutil, mais aceitável.

Mas para quem eu falo? Não sei. Por vezes percebo que falo, e não consigo dizer nada. Às vezes silencio, mas acabo gritando. Noutras estou em movimento, embora apareça atada e inerte. Entendo, nem todo mundo quer ouvir, então pra quem eu falo?

quinta-feira, agosto 20, 2009

Escape


Uma sensação de incertezas me tranca o ar. Estou querendo muitas coisas, e ao mesmo tempo todas elas me parecem impalpáveis. Sinto os pés e mãos amarrados diante das circunstâncias que assumi pra mim.
Uma parte de mim quer estar do lado, outra quer estar à frente, e a posição de tras por vezes me parece a mais adequada.
Aquilo que escolho, me leva outra coisa, só que quero transitar entre ambas. Não quero perder pra ganhar. Não agora, não hoje. Talvez amanhã.
Me deixe assim, me deixe fazer, não me prenda. Não agora, não hoje. Talvez amanhã.

terça-feira, agosto 18, 2009

l'évolution


Não dá para permanecer sempre no mesmo lugar. Sair do eixo é necessário. É natural. Faz parte da vida. Transformar hábitos, mudar de opinião, readaptar-se, são processos tão intrínsicos ao ciclo da vida, quanto nascer, crescer, morrer.

Idas e vindas, encontros, desencontros, reencontros. Perder e ganhar, ter e deixar de ter. Fazer e desfazer. Nada é estático, a vida é mudança, é ciclo, é um círculo, onde hora estamos emcima, ora embaixo e ora dos lados. Onde o começo pode ser o fim, e o fim apenas o começo.

O que muda só externamente perde a imensidão e a importância, a roda deve ser girada também, dentro da gente. Resistir a isso é tão eficaz quanto acreditar que a morte é
apenas uma consequência de estar vivo.

domingo, agosto 16, 2009

Não olhe pra trás


O foco muitas vezes está no que se perde, e não no que se tem. Como no mito grego de Orpheu e Eurídice, a falta de confiança no novo, faz você viver aprisionado no passado.

O medo tem o poder de tolir as possibilidades, estancar as fontes. A prisão no passado, no amor que deixou de existir, é a pior via para o inusitado. Sempre teremos uma segunda chance, contanto que saibamos viver como novo aquilo que é novo, olhando para adiante e, sobretudo, confiando.

Virar os olhos para o que se foi é uma maneira cômoda de dizer a si mesmo, "esta era sua única chance". Esta crença é capaz de imobilizar, paralisar o tempo. E nada mais acontece. Portanto, sem mensurar o tamanho da perda, ande pra frente. E, nunca, em hipótese alguma, olhe pra trás.

sábado, agosto 15, 2009

Assim


A boca, os lábios, a língua. O nariz, o cheiro, inspire, espire. As mãos, os dedos e as pontas deles. O frio, o arrepio, o calafrio. A pele, a minha, a sua, a pele na outra pele. As pernas, coxas, o enlace delas. O pé, os sentidos. O gosto, o cheiro, o toque, a imagem, escuto você.

Aperta, abraça, prende, solta, molha. Escorre, desliza. Ascende, transcende. Mergulha, absorve. Acalma, alma. Pega, sente, gosta. Engole, mais um gole. Empurra, puxa.

Esfrega, entrega, pede, troca. ascelera, intensa, extensa, treme. Assim é tudo.

quarta-feira, agosto 12, 2009

desorganizando a bagunça


Algumas coisas exigem bastante de mim. Uma delas é a arrumação das coisas. Botar ordem nos objetos me deixa bastante melancólica e nostálgica. Tudo o que guardo, o faço com aquela sensação de que me pertencem de certa forma, que são necessárias, se não para o uso em si, para me reavivar em lembranças.

Certas filosofias de vida, indicam a eliminação do inutilizável. Mas devo perguntar, o que realmente é utilizável, na concepção destas ideias e formas de se levar a vida.

Se eu gosto tanto de caixinhas vazias, será que elas não me são úteis? Sempre penso que sim na hora de arrumar gavetas e armários.

Não sei porque, mas estas arrumações acabam me bagunçando, embora às vezes sinta um alívio quando me livro de certas coisas, por outras só consigo lamentar. Eu sou assim, e enquanto isso convivo numa boa com esta desordem.

sexta-feira, agosto 07, 2009

Me encharco


Se um dos principais elementos que me envolvem é a água, não sei porque não gostar dos dias chuvosos. Resolvi levantar esta questão em mim, pois foram muitas chuvas que me tiraram o apetite, o desejo e a vontade.

Mas hoje, e principalmente, neste início de tarde molhado, cinza e sombrio, revigoro conceitos sobre dias úmidos, aquosos. Teve vezes que dias assim me fizeram aguar, ter olhos marejados, e uma certa vontade de afundar no abismo das águas que se formam denro de mim.

Só que agora, e nos momentos que antescederam este texto, me deu uma vontade de gostar da chuva escorrendo pela vidraça, da minha janela vejo uma árvore tomada pelo espírito de outono e inverno, seca, cinza, sem folhas, só os galhos balançando levemente ao sabor do vento e da chuva fina. Me comparo com esta árvore, consigo sentir as gotas caindo sobre mim e me dando a sensação de alma lavada, penso que esta árvore, se pensasse, estaria com esta mesma sensação. Parece que ela sorri para a chuva.

Passo então, a querer esta sensação. Quero ser como a árvore, que se alegra para cada gota d`água que se debruça sobre ela. Vou lavar minha alma, a cada dia molhado, e esperar limpa, o sol que já deve estar próximo.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Avesso e direito


Tem uma parte de mim que quer viver de sonhos. Não raras vezes, fico parada pensando em como tudo poderia ser, me entrego para este mundo subjetivo, onde vivo melhor, mais tranquila, mais inteira.

De tempos em tempos sou resgatada pra realidade das coisas, e os gostos, cheiros e cores da vida imaginada se dissolvem como nuvem.

Vivo então mais um pedaço desta vida que tenho por real, e de quando em quando volto e me refugio na outra forma de viver que descobri pra mim.

Acaba sendo bom andar de vida em vida, mesclar as coisas, misturar as nuances. Quando está tudo escuro por aqui, vou para o outro lado e busco as cores que preciso para dar vida a vida. E nunca me perco neste caminho. Sempre encontro as saídas.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Vãos e brechas - o tarot


Hoje senti o vácuo dentro de mim, ao estar diante de uma situação de antever meu futuro, junto a uma pessoa que dizia ler coisas que estão por vir. Sentada a sua frente, via um punhado de papéis, com imagens e símbolos místicos, tentando ser a previsão dos meus próximos segundos, horas e dias.

Não teve uma só palavra que tenha sido dita, que eu já não tinha ouvido de mim mesma. Tudo o que eu já sabia foi repetido. Mesmo assim quis ouvir, das promessas "promissoras", que os astros reservam.

Só que a sensação de saber antes, gerou em mim um vazio, um buraco, por onde minha esperança escapou. Minha vontade pelo inusitado foi se esvaindo aos poucos.

Muito embora eu saiba que nada está de fato ao nosso alcance, e que no máximo podemos fazer nossa parte e auxiliar para que as coisas aconteçam como tem que ser, por horas me furto o direito de pensar assim e vou em busca de algo externo, para preencher o que deve ser recheado por dentro.

E sigo tapando buracos, mas deixando vãos e brechas entreabertas para que a esperança retorne.

domingo, agosto 02, 2009

O sopro


Há no meu instinto um sopro. Um sopro de querer. Um sopro de sonhar. Um sopro de seguir. Aquilo que fazemos fica feito, ninguém pode tirar o título de "coisa feita", já o que não fazemos, está fadado a nunca existir. Por isso exponho meus sentimentos, escancaro para quem quiser compreendê-los ou não.
Não me furto o prazer de sentir e ser. Não há vida onde não há troca, não me relaciono com paredes, quero retorno. Viver é fazer algo pra nós com a intenção dos outros.

Nada precisa ser

"O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre. Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações".

Por momentos me pergunto o quanto é possível ser de verdade. Se não somos nada além de vontades, desejos, sonhos, transformados em material, em objetos de consumo. O que quero hoje, posso não querer mais amanhã. Assim são as coisas. Então pra que se debruçar sobre coisas que poderíamos compartilhar apenas. Nada é nosso, nada é de verdade, nada precisa ser.

Para constar

"Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também".

As palavras que aqui aparecerem amontoadas em um sentido, serão apenas ideias, despretenciosas, que faço sobre as coisas. Não configuro adivinhar vontades e verdades. Apenas as escrevo, as palavras, para que juntas possam ser eu.