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terça-feira, outubro 13, 2009

Carnal


"Não quero sugar todo seu leite, nem quero você enfeite do meu ser. Apenas te peço que respeite o meu louco querer. Não importa com quem você se deite, que você se deleite seja com quem for. Apenas te peço que aceite o meu estranho amor.
Teu corpo combina com meu jeito. Nós dois fomos feitos muito pra nos dois. Não valem dramáticos efeitos, mas o que está depois. Não vamos fuçar nossos defeitos, cravar sobre o peito as unhas do rancor, lutemos mas só pelo direito ao nosso estranho amor".

Ando querendo demais, esta volúpia me invade, os beijos sozinhos não me satisfazem. Desejo pele na pele, poros nos poros, saliva, línguas, dedos, marcas, vontades ocultas. Ao meu bel-prazer. Não abro mão de amar, mas preciso delirar. É uma necessidade de um corpo cálido, que repele frieza, desdém, palidez, falta de gosto, ausência de cheiros, inércia, atitudes púdicas.
Se for pra se entregar que seja assim, carregada de desejo, com o corpo trêmulo. Jogar-se por inteiro, esgotar tudo, deixar escoar as sensações sem se prender, sem pudorizar o despudor.

Subterfúgios do querer


Ao nascer começamos a morrer. Quando abro os olhos pela primeira vez, começo também a fechá-los pelo última. Desejo crer que sou pra sempre, mas pra sempre nada é. Na minha vida há duas contagens de tempo: uma progressiva, outra regressiva. Ultimamente tenho preferido andar pela linha regressiva, onde abrir os olhos em cada manhã já é uma vitória.
Tento me equilibrar nesta linha sutil de tempo, ao mesmo tempo em que me impeço de pular para o outro lado do "progresso". Na minha cabeça, a vida anda de costas pra morte, sabendo que é para ela que caminho. Esta sensaçao me alegra, não por saber que a morte está logo ali, e sim por entender que a vida está aqui e agora debaixo dos meus pés, pronta para ser caminhada, e que o tempo é curto, é raro. Isso me encharca de prazer.
Me faz querer agora e não amanhã, me faz amar agora e não amanhã. Me liberto do que quis ontem, é tempo que já foi. Me desprendo do depois por ter certeza que pode não acontecer.
Sorrio no hoje, choro no hoje, beijo no hoje, esqueço no hoje, conquisto no hoje, repugno no hoje, sonho no hoje, realizo também. Não durmo desejando, apenas durmo. Fecho os olhos revestidos de um querer eloquente em poder abri-los novamente, mas sempre com a sensação de ter feito tudo o que quis. Deitar assim me alivia, me faz descansar, mesmo com a possibilidade de não acordar. Portanto, ouvrez vos yeux.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Transite


"Uma caneta e um sentimento são motivos suficientes para eu escrever". Do que você precisa para se sentir completo? O que realmente te faz expor teus sentimentos? Ter e não querer, querer e não ter, ser e não sentir, sentir e não ser. Qualquer ser humano com um mínimo de consciência já esteve localizado na ponte que divide o que somos do que queremos ser, e o que temos do que queremos ter.
Não vejo subjetivismo exagerado nisso. Todos precisamos transitar estes dois lados, para se encontrar de fato no centro, quem não percorre a linha entre o que é e o que quer ser, não evolui, acaba se entregando ao contentamento descontente de carregar um fardo muito leve, o da estagnação. Leve porque não requer fazer força de espécie alguma para isso, o único requesito para levar este fardo é estar-se cheio de uma quietude sufocante. Vivendo de uma relação consigo mesmo baseada no silêncio absoluto. Vestindo máscaras que não escondem nada, e que revelam menos ainda.
Quero estar sempre na ponte, testando meus limites, instigando minhas virtudes. Tenho um corpo que rende mais que o desejado, uma mente ativa e uma alma livre. E é só disso que preciso.