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sábado, fevereiro 27, 2010

Se faz sentir, faz sentido


Me conhecer de verdade, requer muito mais sentimento do que razão. Eu sou uma pessoa para ser sentida, e não decifrada, não me construo sob códigos, e sim em camadas, que precisam ser desfeitas, retiradas uma a uma. Nada de decodificações, apenas tocam-me e desnudam-me coisas que estão, não ao meu alcance, ou tangíveis, e sim toques profundos.

Não me agradam nem códigos alheios. Sinto falta de ter por perto pessoas construídas em camadas, e não forjadas em macetes, e formatos excessivamente racionais. Os meus desejos não são segredos, faço questão de os deixar claro, para quem quiser saber. Afinal como se fazer transparente senão com clareza.

A forma sutil não me atrai em quase nada. Conheço pessoas que se revestem para não serem, verdadeiramente, reconhecidas. Que deixam somente pistas dúbias sobre sua real intenção, pra que? O que de fato conseguem com isso? "Mentir pra si mesmo, não é sempre a pior mentira"?

Por enquanto, ou, enquanto me for adequado, serei assim, transparente. Eloquentemente o que sou. E apenas sou. Sem máscaras, sem nuances, sem dó.

sábado, fevereiro 20, 2010

Extasiante


Nada do que exponho é sem propósito. Não ousaria ocupar espaço numa folha em branco, com o mais absoluto nada. Tentar traduzir o nada em palavras, é quase tão eficaz como cuspir pro alto, e ficar olhando onde a saliva vai cair. De nada adianta escrever pra si, se fosse pra ser assim, não seria tomado da necessidade de exposição, se bastaria em pensamento.

A expressão que alcanço com palavras, é a minha melhor dança. É a maneira mais concreta que encontro de unir o ato à intensidade do pensar. Beijo o céu com as palavras, molho os pés na imensidão azul de ver o sentido. Desejo que algo seja desencadeado ao ler o que escrevo. Não quero inércia.

Posso me furtar de quase tudo, menos disso. Minha paz habita em poder traduzir o que sinto e penso. Quando não extravaso, é como se tivesse que carregar uma flecha atravessada carne a carne, me sufocando. Não peço entendimento, apenas reação.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Desilusão


Palavras são apenas palavras, você pode dizer o que quiser, embora sabendo que será desmentido ou confirmado mesmo pelas suas atitudes, afinal, o que você diz, com toda certeza, é apenas o que você diz. Sempre acreditei nisso, e me surpreendo cada vez que acabo sendo arrebatada por atitudes incoerentes e destoantes de falas.

Algumas pessoas, aliás, têm um certo "talento", em esculpir suas personalidades apenas com palavras, tenho certa piedade destas pessoas, pelo fardo que carregam de nunca serem verdadeiramente nada. Estas possíveis realidades, são desfeitas no sopro de uma única atitude que faz evaporar aquilo que nunca existiu.

Por mais que se exaltem sentimentos, méritos, e qualquer outra descrição da alma sustentados em coisas ditas, o algoz é imperdoável, e não deixa dúvidas ao pesar o que foi dito e o que foi feito.

Nessas batalhas travadas entre o que você diz e o que você faz, o resultado pode ser mesmo assustador, para quem ousou acreditar apenas na sua língua. A decepção é quase sempre irreparável, afinal ninguem gosta da sensação de achar que conhece e sem antever, se deparar com um desconhecido.

Mas embora saiba disso tudo, e saiba também reconhecer este tipo de gente, já me peguei inúmeras vezes, diante de castelos desmanchados, talvez criados por mim, mas certamente, desfeitos por outros, pois definitivamente, ninguém desvenda ninguém, o que ocorre é apenas o naturalmente previsto para quem sustenta ser o que não é - a fragilidade da palavra é tão vil ao poder da atitude. Nada do que não existe em atitude, pode se manter ileso por todo o sempre. Falar não se basta por si só, sem atos que sustentem.
adas

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Simplesmente exista


v. tr. tolerar
1. Sofrer o que não deveríamos permitir ou o que não nos atrevemos a impedir.
2. Consentir; permitir; deixar passar.


Sou capaz de permitir um tanto de coisas. Em silêncio pergunto-me por vezes, o que de fato sou capaz de tolerar. Possibilidades vem e vão, e nada tolero pra sempre. Aliás, tolerar é um tanto quanto estranho pra quem não suporta apenas a indiferença! Perdoem-me, mas não consigo mesmo ser indiferente. Como eu queria ter este artifício dentro de mim, para de vez em quando escapar da teia de julgamentos que atiro em tudo. Nada, absolutamente nada passa por mim ileso as entranhas daquilo que penso.
Vim desprovida da faculdade de tolerar, nem mesmo me tolero.

Deixar passar, é como fechar olhos, boca, ouvidos e cerrar todos os demais sentidos, para aquilo que se joga contra você. Se tem que ser tolerado é porque de certa forma está no meio do caminho, estancando o fluxo, trancando a passagem.
Gêneros, estado forçado, disfarces não me pegam mais, o que tem que ser, tem mesmo que ser. Com toda a força que consegue ser, sem máscaras, sem nuances. Ou preto ou branco, ou extremamente colorido, mas nunca incolor. Ou salgado, ou doce, ou cítrico, mas nunca sem gosto. Me poupe da sordidez das ausências, das pseudo-coisas. Isso só aguça mais minha intolerância.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

intensité, véhémence


Intensidade, profundidade,vontade, qualidade, substancialidade, vaidade. Eu sou antes, eu sou hoje, eu sou agora, eu sou quase. E um senso de não poder parar me puxa de volta, sempre. O começo de tudo é o que me deixa feliz, embora goste der sentir a beleza estonteante do que foi concluído. Daquilo que consegui levar até o fim, é pelos intantes iniciais que me apaixono.

Quando borbulham ideias na cabeça, vontades novas, começa aquela sensação perfeita de querer mais, e de poder chegar ao fim denovo. Cada começo me renova, me alcança ar. Os finais me entristecem, sim! Apenas pelo anúncio de que talvez nada tenha a fazer depois.

Sempre buscando um novo ritmo pra vida, o inusitado que talvez nunca quis, mas agora quero. Desafios que lanço ao meu colo, testando minha própria voracidade de fazer. Encarno-me no entrechoque voluptuoso do desejo de continuar. Na coisa que me deixa a vontade, desejosa, me grudo nestes novos começos, numa dança apaixonada entre mim e eu, até que chegue ao fim, até que cesse. E comece outra vez. Para mim o que eu posso ser. Para os outros, não sei.